domingo, fevereiro 03, 2008

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.


Alberto Caeiro

3 comentários:

Ema disse...

não sou tão fã do Caeiro como do Álvaro de Campos, mas olha que com esta convenceste-me.

("amar é pensar"
"quase prefiro não a encontrar para não ter que a deixar depois")

estes versos são de uma sinceridade tal, que me custam até a admitir em poesia. parecem daqueles episódios recalcados, à maneira freudiana; fico espantada quando é preciso um Fernando Pessoa para me trazer do inconsciente e me apresentar aos factos da paixão e do amor não correspondido.

Marvin disse...

o amor, meu amigo... o amor...
ninguém fala dele como o pessoa...

pegueitrinquei disse...

subscrevo a Ema, também gosto bem mais do Caeiro, mas estas palavras...

Wow!

Paixão primaveril?