terça-feira, setembro 18, 2007

What I suffered then, and still suffer, is not for pen to write or paper to record

Sempre pensei que não tinha a capacidade de me emocionar a ler um livro. Por falta de capacidade de concentração ou assim. Isto até, recentemente, ter lido De Profundis de Oscar Wilde. Não vou recomendar o livro a ninguém, acho que não é para ser lido por recomendação. Mas posso vos dizer de que trata e, quem sabe, convencer-vos assim. O livro é uma carta de Oscar Wilde para um amigo. Nela ele analisa de forma profunda o seu amigo e a relação entre os dois. Não sei se ele sabia que acabaria por ser publicado ou não mas a verdade é que ele escreve de forma universal, usa a relação deles como um meio para chegar a considerações que podem ser transportadas para a nossa vida. Por três vezes emocionei-me com as suas palavras. Por duas vezes por razões pessoais, outra por isto (gosto mais de ler o excerto em português mas tinha de o estar a redigir):

«When I was brought down from my prison to the Court of Bankruptcy, between two policemen, - waited in the long dreary corridor that, before the whole crowd, whom an action so sweet and simple hushed into silence, he [Robbie] might gravely raise his hat to me, as, handcuffed and with bowed head, I passed him by. Men have gone to heaven for smaller things than that. It was in this spirit, and with this mode of love, that the saints knelt down to wash the feet of the poor, or stooped to kiss the leper on the cheek. I have never said one single word to him about what he did. I do not know to the present moment whether he is aware that I was even conscious of his action. It is not a thing for which one can render formal thanks in formal words. I store it in the treasure-house of my heart. I keep it there as a secret debt that I am glad to think I can never possibly repay. It is embalmed and kept sweet by the myrrh and cassia of many tears. When wisdom has been profitless to me, philosophy barren, and the proverbs and phrases of those who have sought to give me consolation as dust and ashes in my mouth, the memory of that little, lovely, silent act of love has unsealed for me all the wells of pity: made the desert blossom like a rose, and brought me out of the bitterness of lonely exile into harmony with the wounded, broken, and great heart of the world.»

Pensar em toda aquela cena, em que um homem algemado vê tirar outro prestar-lhe homenagem perante uma multidão, não propriamente de apoiantes visto que Oscar Wilde viu o seu nome manchado durante todo o processo que levou à sua prisão, deixa-me de lágrimas nos olhos. Como ele diz, esta acção é uma acção perante a qual nada se pode dizer, não há palavras de agradecimento para um gesto destes. Um gesto em que a única intenção é mostrar respeito, admiração e amizade. Na minha opinião, isto é amor.

5 comentários:

Anónimo disse...

pelo que percebi
o outro tirou-lhe o chapéu. certo?

Francisco disse...

sim, mas ninguém tira simplesmente o chapéu, deve ter feito uma espécie de ‘vénia’.

Anónimo disse...

esse amigo do oscar wilde era um amante dele, acho eu. e acho que foi por causa dele que o oscar wilde foi parar à prisão por práticas homossexuais e assim.
é um ganda livro.
apetece sublinhar tudo, então desiste-se de sublinhar.

Francisco disse...

sim, ele fala sempre em amizade mas sim, eram amantes

Anónimo disse...

TL;DR. A partir de agora (de certa forma, sempre ate hoje) aplico isto a posts desta envergadura.