sexta-feira, outubro 19, 2007

Solidão

«Como nunca vieste, já não venhas.
O mais rico tesouro é o que se nega.
Ágil veleiro doutros mares, navega
Com as asas que tenhas!

Foge de ti, porque de mim fugiste.
Alarga a solidão que me consome.
E apaga na memória a praia triste
Onde eu pergunto às ondas o teu nome.»

Miguel Torga - Coimbra, 6 de Março de 1952.

«Agora que passou a inquietação
E sei que não vens,
Que aliviada solidão eu sinto!
Como um cadáver que se libertou
Das penas de viver,
Tenho nas veias um sossego frio.
É um repouso de pedra
Sem qualquer inscrição perturbadora.
Calma de hibernação
Nos ossos, no instinto e na razão,
E na própria vontade criadora.»

Miguel Torga - Coimbra, 20 de Julho de 1953

4 comentários:

Anónimo disse...

muito muito fixe.

Francisco disse...

o miguel torga é tão bom e eu a ver que ninguém dizia nada...

Anónimo disse...

acho que é por isso que não dizem nada.

Francisco disse...

deve ser isso, é :)