sábado, julho 21, 2007

Desabafo #2

Post Scriptum: Iniciei o post sem saber o que ia escrever e acabei por me alargar na dissertação, ainda assim, gostava muito que lessem e que tirem prazer disso. Gostava também que toda a gente que ler comentasse. É bastante pessoal, diga-se. É nesse sentido que o blog tem evoluído, penso que seja porque falar sobre nós é sempre mais fácil e cada vez mais me apetece escrever e não dizer só disparates. Se não o quiserem ler, leiam só o último parágrafo mas devo confessar que é dos textos que mais prazer me deu escrever. E dos mais pessoais, também.

De há uns tempos para cá que vivo com medo do futuro. Um aperto no coração, por assim dizer. Já referi anteriormente que não queria que o verão chegasse e, agora que ele chegou, tenho ainda mais a certeza disso. Vivo com medo do futuro, que grande verdade. De um futuro próximo, não do futuro daqui a 5 anos porque com esse tenho eu tempo para me preocupar. Suponho que só tem medo do futuro quem tem planos para este. Quem não tem qualquer objectivos para o seu futuro, nada espera dele, logo não tem medo que os seus objectivos não se concretizem. Sim, acho que é verdade. Mas também, será possível não ter esperança em nada? Acho que não. Pelo menos, não ter esperança em nada por um longo período de tempo. Dizia eu, então, que estou com medo do futuro, nomeadamente do verão. As razões são simples, o verão sempre foi uma altura um pouco solitária para mim e, agravado com o facto de já ter este sentimento de solidão à partida, este verão de 2007 assusta-me. Acho que o que me preocupa mais é o tempo que vou ter para pensar nas coisas que me deprimem. Se em tempo de aulas não tinha tanto tempo e andava de trombas inúmeras vezes, o que esperar agora? Julgo que a conclusão é clara. A palavra trombas não será a melhor para me definir. Deixem-me pensar. Sim, ausente, é isso. Ando ausente. Se o cérebro trabalhar a dois níveis, digamos assim, interajo com as pessoas pelo segundo, sendo que, o primeiro, está a pensar noutras coisas. Em grupos, deixo as pessoas a falar enquanto penso nas minhas coisas. A verdade é que a maior parte das conversas nem me interessam por isso acabo por não perder grande coisa. O Oscar Wilde dizia «It is absurd to divide people into good and bad. People are either charming or tedious.» E eu concordo. Contam-se pelos dedos das mãos as pessoas que considero serem interessantes. Todas as outras até podem ser aceitáveis (é uma palavra bastante feia neste sentido) quando em grupos mas basta passarmos breves minutos sozinhos com elas para rapidamente percebermos que nada temos em comum. A maior parte das vezes, estas são pessoas que vemos quase todos os dias. E isso é triste. Quando somos crianças qualquer outra criança pode ser nossa amiga desde que goste de brincar à apanhada ou às escondidas. Depois, vamos crescendo e tornamo-nos cada vez mais exigentes quanto às pessoas com quem estamos. E, se esse crescimento for acelerado, o choque de nos apercebermos que gostaríamos de ter outras pessoas é maior. Pessoas que tenham mais a ver connosco. No caso de pessoas que já conhecemos há anos não há tanto esse problema, crescemos juntos, há sempre coisas que nos unem. Se não outra coisa, há história. Mas, se depois do tal crescimento, olharmos para as pessoas que conhecemos há pouco tempo, percebemos que não nos interessam tanto como deviam. Felizmente, há sempre excepções para confirmar a regra. Escusado será dizer que sinto que foi isto que me aconteceu: cresci demasiado rápido. E isso trouxe-me alguma infelicidade:

Further into the fog I fall
Well, I was just
Following you!
When you said :

"Do as I do and scrap your fey ways"
(Dial-A-Cliché)
"Grow up, be a man, and close your mealy-mouth!"
(Dial-A-Cliché)
Dial-A-Cliché
Dial-A-Cliché

But the person underneath
Where does he go?
Does he slide by the wayside?
Or ... does he just die?

And you find that you've organised
Your feelings, for people
Who didn't like you then
And do not like you now
But still you say:

"Do as I do and scrap your fey ways"
(Dial-A-Cliché)
"Grow up, be a man, and close your mealy-mouth!"
(Dial-A-Cliché)
"The Safe way is the only way!
There's always time to change, son !"
I've changed
But I'm in pain!
Dial-A-Cliché

Ponho esta música não por me identificar inteiramente com ela mas por levantar alguns aspectos interessantes. Parece-me que a música é sobre alguém que mudou por causa de outra pessoa. Queria ser mais interessante aos olhos dessa pessoa. Naturalmente isso não serviu de nada: «And you find that you've organised / Your feelings, for people / Who didn't like you then / And do not like you now» e por isso: «I've changed / But I'm in pain». Felizmente, não mudei por ninguém. Isso parece-me um grande erro. Mas aquele «inteiramente» deixa-vos a pensar, não é? Acho que a diferença entre mim e o sujeito poético é que não mudei por causa de uma pessoa mas com uma pessoa. Mais uma vez, diria o Morrissey: «such a little thing makes such a big difference». Se não faz sentido mudarmos por uma pessoa, faz todo o sentido mudarmos ao aprendermos com outras pessoas e agradecer-lhes por isso.

Já passa da meia-noite (ainda que apareça datado de sábado) e eu já escrevi muito. Têm tempo de ler, só devo voltar dia 31 deste mês. Por isso, bom início de férias para aqueles que as vão ter e boa continuação de trabalho para os outros.

19 comentários:

Anónimo disse...

caro xiquitito,

muitos parabéns pela pertinência do texto
e sobretudo pela facilidade que tens em pôr por palavras o que pensas.
li-o rapidamente, o que é bom.
ritmado e condensado, leva muita coisa dentro e prima pela clareza.

pergunto-te duas coisas que quero mesmo saber,
não é provocação ou retórica:

em que medida é mau para ti o "sentimento de solidão"?

em que medida é menos boa para ti a convivência com pessoas com nada em comum contigo?

venham os antónios e manéis com piadas sem piada.
venham as cláudias e as saras com comentários "sensíveis e profundos"!

só dia 31? ora bolas, marina.

Francisco disse...

muito obrigado, cara anónima, também gostei muito de o escrever e também foi escrito "rapidamente", quase sem parar

é engraçado que tu pedes sempre explicações sobre as coisas que lês. há coisas que são para ser deixadas à imaginação.

bom, na medida em que sinto que me falta alguma coisa, sinto-me incompleto. acho que ninguém consegue sentir-se bem só por muito tempo. gosto de estar sozinho mas também gosto de ter boa companhia de vez em quando. Mas, calma, eu não me sinto sempre sozinho. Por exemplo, quando saio de casa para lado nenhum é uma das situações em que isso acontece. O problema é que as pessoas têm muitas outras preocupações.

quanto às outras pessoas, quando uma pessoa não tem nada em comum contigo é uma pessoa que não te interessa. logo, uma pessoa com quem não tens nada para falar nem quase nada para discutir, porque se tens alguma coisa para discutir com a pessoa é porque essa pessoa se interessa pelas mesmas coisas que tu mesmo que não partilhe as tuas opiniões.

:)

até às cinco da tarde ainda têm direito a resposta.

Francisco disse...

bom, é a última vez que aqui venho.

Até um dia destes!

Tiago Ramos disse...

Francisco, fiquei absolutamente sem palavras. Parece que encontrei um semelhante, alguém igual. Tenho absolutamente o mesmo modo de pensar que tu neste caso.

O verão é uma época depressiva para mim, sempre foi e parece.me que vai continuar. O sentimento de solidão, de me sentir incompleto e por preencher é algo próprio em mim, é natural, pertence-me desde que me conheço. E ainda mais quando não estou ocupado, as coisas vêm-me à mente. É verdade que elas sempre me perturbam, mas no Verão/Em férias penso muito nelas, "matuto" nelas, a cabeça não pára. E depois deprime mais.

Quanto às pessoas, se a conversa delas não me interessa, muito menos me interessam elas. As pessoas irritam-me muitas vezes, irritam-me os gestos, as acções e outras vezes fico atento a olhar para elas, sem ouvir o que dizem, deixando o meu inconsciente a falar sozinho. Tenho poucos amigos interessantes, aliás começo a ter cada vez menos e mesmo esses que nos acompanham a vida toda e que têm muito da vida em comum connosco, começam por vezes a deixar de interessar. E eu a elas também, dizem que fiquei adulto demais, mais interior, que cresci depressa...
Enfim, só semelhanças.

: )

ritah disse...

é bom saber em q categoria do Oscar eu me enquadro.

Anónimo disse...

opá, só dia 31. entretanto comentem, pessoas, falem pelo xiquitito enquanto xiquitito se ausenta. faltam falar os antónios e ricardos.

xico, mas uma pessoa com quem não
tenhas "nada para falar nem quase nada para discutir"
não pode dar-te, precisamente,
outras coisas para "falar e discutir"?

Anónimo disse...

"falta" falar, não "faltam", hã?

Anónimo disse...

Caro Francisco e caros leitores,

"Se alguma vez te acontecer teres de te modificar para agradar a outrem, certamente perdeste o teu projecto de vida", disse Epicteto.

Tinha acabado a leitura do texto do Francisco e foi a primeira frase que me assaltou o pensamento.

É durante a fase da adolescência e da pós-adolescência, época marcada por alterações psíquicas, que se levantam todas essas questões agora colocadas pelo Francisco.
Uma fase em que os nossos olhos se vão abrindo lentamente.
Ficamos encandeados com o que se nos depara e ardem-nos os olhos.

De facto, é necessário sofrer. Sofrer muitos anos, sofrer por nos sentirmos a pairar, pela falta de identificação com o outro.

Sofremos por nos sentirmos isolados, como num lance de escadas, em que os outros meninos e meninas brincam noutros degraus que não são o nosso.

Nós sentimo-nos num degrau isolado, sem temos a vontade de descer aos outros degraus para brincar com os outros meninos.
É que os outros degraus não foram concebidos para nós. Iríamos escorregar, tropeçar e acabar por partir a cabeça.

Agora, no lance de escadas em que nos encontramos temos duas opções.
Descer aos outros degraus, amputados daquilo que somos, a tropeçar e a escorregar no chão que é todo areias movediças.
Ou resignarmo-nos docemente, contentando-nos com o raro viajante que passa de quando em quando pelo nosso degrau.
Um viajante, vindo de onde nós viemos. Um viajante dos nossos.

Evitemos os tropeções e as nódoas negras.
Saibamos viver sem nos modificarmos por não nos sustermos sozinhos.

Anónimo disse...

foda-se.

cláudia lomba disse...

já dizia alguém, quem não gostar que deixe na beira do prato. :)

há sempre quem goste de nós como somos, sempre.
só muda quem tem essa necessidade, e a outra pessoa pode é ajudar nessa mudança. não acredito que se mude por ninguém. acredito sim, e muito, que todos somos 'melhores' com pessoas que consideramos especiais.

Francisco disse...

tigui, boa sorte para o teu verão, então!

ritah, oscar?

anónima, não, se não temos nada para discutir não falamos. Uma coisa é teres interesses comuns com uma pessoa ainda que as vossas opiniões divirjam. Isso é bom. Agora se têm interesses diferentes não têm nada para falar.

dr. teresa, gostei da analogia mas permita-me alterar um bocadinho, acho que estamos num degrau de uma escada rolante que anda devagarinho. Desde que entramos nela vamos mudando até ao dia em que ela chega ao fim e morremos. Acho que estamos em constante mudança. E isso é bom. E eu não mudei para "brincar com os outros meninos". Mudei, sim, mas continuo tão afastado como sempre estive.

cláudia, pois, suponho que eu tenha sentido essa necessidade, ainda que de forma não racional.

Anónimo disse...

a questão era se essa pessoa com nada em comum não pode dar-te para a mão algo novo para.. "discutir", nunca antes por ti pensado. a não ser que não queiras aceitar nada para além do que já tens. é isso?

Francisco disse...

epá, sei lá. é claro que há pessoas que fazem isso, fazem-nos pensar em coisas que não pensavamos, e essa talvez tenha sido a razão pela qual mudei mas a maior parte das pessoas são simplesmente chatas. não conheces ninguém com quem não tenhas nada em comum e com quem tens a certeza que nunca vais aprender nada?

Anónimo disse...

aprender (ou não aprender) não é necessariamente útil ou agradável ou, aliás, não é o busilis da questão. não mencionei "aprender".

as férias como foram?

Anónimo disse...

e, já agora, se tamos numa de aprender, aprender que não se aprende nada, que tal?

Francisco disse...

foram fixes, obrigado, e amanhã lá vou eu outra vez.

Anónimo disse...

não sem antes me responderes à questão?
também podes dizer que sou muito chata, sempre fico a saber qualquer coisa.

Francisco disse...

afinal fico por cá até domingo.

qual questão?

sim, és um bocado chata.

ritah disse...

oscar wilde...