sábado, julho 12, 2008

Bonnie 'Prince' Billy @ ZDB

Entra em palco de crocs vermelhos e sai ovacionado por uma sala esgotada? Algo se passa aqui. Pois bem, eis Bonnie 'Prince' Billy.

Mas vamos recuar um pouco no tempo. Antes do concerto estava eu sentado à espera, quando de repente passa o Bonnie 'Prince' Billy, a assobiar, feliz, como se não fosse nada. Parecia estar a meter-se com as pessoas que ali esperavam.
Depois de estar tudo preparado e impaciente para que comece, entra a banda. O Bonnie 'Prince' Billy vinha todo de branco e crocs vermelhos. As primeiras músicas foram retiradas do último álbum, dando o mote para o resto do concerto e prometendo, desde cedo, uma noite dedicada ao country-rock. No meio de uma música alguém grita "ihá", Will Oldham responde com um "ihá" também. Toda a gente bate o pé. No entanto, o vidro para o Bairro Alto - com muita gente intrigada com o concerto que decorria lá dentro e, suponho, com a figura do B'P'B - mantêm-nos conscientes de que não estamos no interior americano, estamos em plena Lisboa. A natureza (ou roupagens, como se diz agora) country-rock das músicas tornaram-nas difíceis de acompanhar - mesmo nas músicas que conhecia bem tive dificuldade em "cantarolar". As palavras também se perderam um pouco com tantos sons por trás. A presença de um guitarrista - que era fantástico, parecia muito feliz, fazia boas segundas vozes e, como o meu irmão disse, tinha para aí 10 anos - permitiu ao Bonnie Billy não tocar guitarra em algumas músicas e esbracejar e "dançar" como bem entendeu.
É difícil comparar este concerto com o anterior tendo eles muito pouco em comum. Se o anterior tinha intimidade por ele estar sozinho ou acompanhado pela Dawn MacCarthy, uma voz feminina bem mais interessante que a da violinista desta banda - ainda que esta fosse mais gira -, acabou por haver um distanciamento. Parecia estar num pedestal, por ele ser como é e muitas vezes parecer estar noutro mundo, e pelas palavras que assumiram, nesse concerto, um papel mais importante. Aqui, a intimidade foi dada pela coesão da banda e a felicidade dos membros. E ele parecia mais próximo, mais humano até. Não deixou no entanto de deixar transparecer poucas emoções faciais (ainda que caretas ele faça com frequência) - excepto no segundo encore em que parecia muito contente. No entanto transmite-as, quer seja pelo olhar, pelas palavras ou pelo raro (e talvez por isso mais valioso e expressivo) sorriso.
Durante mais de duas horas, foi percorrida uma carreira de mais de 10 anos, desde o álbum de estreia da sua banda, os Palace, até ao álbum deste ano como Bonnie 'Prince' Billy, o seu já muito usado pseudónimo. Houve momentos lindíssimos, houve momentos de fazer rir e houve muita festa. Algumas das melhores músicas foram "You Want That Picture", "I See a Darkness" ou "Love Comes to Me", todas como seria de esperar. Até agora este foi, para mim, o concerto do ano. E ainda por cima, de todos os concertos a que já fui este ano (ver sidebar), foi o mais barato.

Quando ele voltar, lá estarei outra vez na primeira fila.

6 comentários:

Francisco disse...

Confirma-se a minha teoria de que há sempre alguém a gritar qualquer coisa estúpida em português como se o artista fosse perceber. Ouvi lá atrás alguém gritar "Ah careca!".

Maria disse...

LOL. Ao menos alguém disse esse 'ihá' que é um espécie de grito universal.

Não me vou delongar com o desperdício que foi eu ter perdido esse concerto, e o desta noite, por motivos que se revelaram de pouca importância face à oportunidade de ver esse senhor dizer dos mais bonitos versos que se tem ouvido nestes últimos anos. Muito provavelmente esboçaria um tímido sorriso de olhos brilhantes e emocionados no "I see a darkness", que considero cada vez mais um "hino" (por mais pop e pouco cool que isto possa parecer).

Por outro lado, comprova-se a teoria da superação/transcendência/aceitação/distanciamento do real sem aparente saída, e, acho que músicas como o "Love comes to me" provam-no.

Só dois reparos: as crocks que deviam ser feias e escreve-se coesão, não coexão =P

Francisco disse...

sim, a "i see a darkness" é o hino dos depressivos. E sim, basicamente provou tudo aquilo que tinhamos falado.

erro de distração, juro.

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=0jNN-NSHZ6w

Francisco disse...

aposto que dá o melhor concerto do alive.

Maria del Sol disse...

Já levas uma bela "carreira" de concertos este ano. Ainda bem que este valeu a pena. :)