Não sei se vocês estão ambientados com os Centro de Saúde deste nosso Portugal, mas devo vos dizer que se não estão deviam estar. Hoje fui pela segunda vez na minha vida a um. Como tinha urgência na consulta (Não, não estou doente, quero apenas um atestado médico. Infelizmente, dirão alguns.) levantei-me às 6.15 da manhã para ir para a fila que, segundo ouvi dizer, já se formava desde as 5.30. Ao chegar ao local deparo-me com uma fila já bem constituída, mas não desespero. Coloco-me calmamente na fila e é então que percebo que estar ali na fila não é só estar ali na fila. Assim que uma pessoa se encontra na fila sente que foi transportada para outra dimensão, uma dimensão em que toda a gente conhece toda a gente ou quem inicialmente não conhece ninguém rapidamente contacta com os demais. Ainda assim uma coisa mantém-se intocável em relação à realidade, eu sou um "outsider". Nunca lá tinha ido, o que me deixa inevitavelmente em desvantagem. Por entre os habituais "Então e o seu marido tá melhor?", "Por cá outra vez?" e "E a sua perna está melhorzinha?", encontro-me eu, sem grandes hipóteses de entrar na conversa. Mas essa não é a minha única desvantagem. Eu não sofro de qualquer doença nem tenho qualquer dor o que, convenhamos, não facilita nada as coisas. Mas há mais, a minha médica de família parece ter ficado com as famílias saudáveis pois ninguém à minha volta, segundo me pareceu, visto que eu não tive oportunidade de entrar nas conversas dos meus companheiros, tem a Dr. Conceição Travassos como médica. Mesmo quando passava alguém por toda a fila para saber quantas pessoas havia para determinada médica e se valia a pena ainda entrar na fila, eu não tinha sorte. Por todas estas razões os 45 minutos que demorou a espera que o Centro abrisse foram solitários e introspectivos. Assim que o centro abre as portas, as "amizades" recentemente feitas perdem toda a importância: "Você tava atrás de mim.", "O meu neto tava aqui no meu lugar por isso eu sou aqui.", "Eu tava atrás desta senhora, tenho a certeza!". Assim que entro no edifício torna-se claro que as pessoas mais debilitadas encontram-se em desvantagem pois a fila para ir de elevador é enorme, não fosse aquilo um Centro de Saúde. Com toda a razão diga-se, este é motivo de irritação por parte de muitas das pessoas incapacitadas de ir de escadas. Mas há quem se pense mais inteligente que os outros (e de certa forma até é) e decida subir até ao 1º andar para lá apanhar o tão concorrido elevador, mas que, mesmo assim, não abdica de se queixar "Se não conseguir consulta vão ter muito que me ouvir porque isto não...", continuo-o a subir. Uma vez na sala de espera, nova confusão se instala quando uma pessoa tira duas senhas e, em vez de ficar com as duas, decide dar essa senha à pessoa que tem atrás. Ora, a pessoa de trás já tinha uma senha própria. E mais não preciso dizer. Começam a chamar as pessoas para os médicos daquele andar. A principio ainda se discutem posições na fila mas, assim que todas as questões estão esclarecidas, apenas o "burburinho" das pessoas a discutirem razões para ali estarem permanece. Finalmente, os pacientes para a minha médica são chamados. Até aqui nada de mal. Até que, a 2ª recepcionista decide chamar as pessoas para a Dra. Cristina qualquer coisa. É então que se torna evidente que as senhas de nada servem pois as pessoas sabem perfeitamente qual o lugar que querem. A confusão é de novo imperatriz. Ao ponto de um paciente mandar uns "xiu" para o ar e um "Calem-se! Vêm para aqui porque estão doentes mas fazem esta barulheira toda.". E mais não vi nem ouvi pois a minha consulta está já marcada para daqui a umas horas.
segunda-feira, outubro 09, 2006
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